terça-feira, 9 de março de 2010

Jogos de poder

Jogos de poder são jogos onde há um determinado tipo de força, que para ser "saudável" (dentro dos limites psicóticos das pessoas loucas) é necessário haver certa paridade entre os praticantes. Resume-se em idéias satíricas, misturando ironia com a realidade, mesclando realidade e acidez, um pouco de afeto e até um certo rage.

Pessoa inferior me dá pena. Eu não costumo chutar cachorro morto. Por isso não consigo manter esse tipo de atividade com coitadinhos. É como se eu dominasse e pronto. E não tem tanta graça assim. Particularmente a graça não está no domínio, mas consiste em dominar e ser dominada, em estar no poder e, de alguma forma, cedê-lo e posteriormente recuperá-lo.

Pessoa superior "não existe". É como se ninguém pudesse ser maior em relação a tal, e apenas "inferior em relação a tal". Costumo respeitar as autoridades constituídas, como professores, advogados, médicos. Não vamos à aula, ao consultório médico ou de advocacia brigar, certo? Certo. Vamos aprender, seja Língua Portuguesa, como buscar nossos direitos ou como cuidar da nossa saúde.

Pessoas pares. São as melhores adversárias para o jogo de poder. Não existem pessoas iguais, é fato. Se tenho um amigo que entende muito de Matemática, provavelmente seu conhecimento será superior ao meu. O embate começa, se eu não gosto de perder. Geralmente eu iria carregá-lo ao campo da Física, e das teorias Quânticas, que na verdade pra mim são grandes especulações (não sei muito sobre isso). Na essência, ele saberá mais do que eu em Matemática, e talvez eu saberei mais do que ele em Física. Quem irá perder, quem irá ganhar? Particularmente isso não importa. Um exemplo clássico é:

- O que acha sobre o aborto, Bia?
- Acho errado.
- E o que mais?
- Errado e pronto!

Pronto mesmo! Acabou toda a discussão. A pessoa a quem Bia está dirigindo, no exemplo, bem percebeu que o assunto concluiu. E psicologicamente, ganhou-se o que? Não houverão especulações, Bia não aprendeu mais nada além de que o aborto é errado (e na verdade percebemos que ela nem ao mesmo está receptiva quanto a novos conhecimentos).

Logo, jogos de poder fazem bem para a mente humana. O ser que vive realmente aproveita a vida questionando. Porque o céu é azul? Porque a grama é verde? Porque todos temos a mesma forma, com mais ou menos diferenças entre nossas aparências? Porque existem doenças? Porque sabemos o que é certo e errado, e porque isso muda de cultura para cultura? Podemos discutir isso a noite toda. Talvez não chegaremos a lugar algum, mas os jogos de poder aguçam nossas percepções. Pessoas com baixo intelecto costumam associar dúvidas à burrice, e burrice à ignorância. Dúvidas estão entre as coisas mais prazerosas da vida. Não pense em dúvida como um tabu. Pense em dúvida como um excitante enigma a ser descoberto. E não fale em burrice - pobres bichinhos. Não pense em ingorância. Ignorância é quando a pessoa desconhece algo. A pessoa ignora que existam outros tipos de sapato e por isso veste apenas All Star. Isso não é feio. O feio, o errado, o patético e o recriminável, é quando a pessoa toma ciência do novo, do diferente, e tende a negá-lo, à moda de quem não quer ver a realidade, de quem não quer viver a vida.

E o melhor adversário é o que mais ou menos regula conosco. É aquela pessoa que está disposta a se confundir, a confundir o outro, que está disposta a tentar entender, e que está disposta a falar muito mais do que aquilo que a outra quer ouvir. Está disposta quem quer seduzir com as próprias idéias, mesmo que nem se dê conta disso; e que também deseja ser seduzido por novos pensamentos. E, sem falta, está apto aos jogos de poder aquele que não apenas quer ouvir aquilo que deseja - mas quer ouvir tudo o que seu interloucutor tem a dizer.

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