quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Doadora de órgãos e tecidos

E essa é a parte da minha carteira de estagiária da OAB que mais me emociona - onde menciona que, SIM, sou doadora de órgãos e tecidos.

Não mais. Nunca mais.

De pé, eu sinto o veneno se acumular na minha corrente sanguínea. A substância tóxica se amontoa na base do meu corpo e pesa, de maneira que toda célula, toda molécula, todo átomo e absolutamente todo o meu ser anseia pelo repouso, pela inércia, pelo conforto da cama. Eu quero deitar e dormir.

Eu quero deitar, dormir e ejetar toda a toxicidade existente na minha pele, nos meus órgãos, no ar que eu respiro. Então, eu finalmente deito. Não é uma grande surpresa, parece que eu já sabia que a sensação do meu corpo ser um invólucro de veneno não ia passar. Mas eu precisava deitar e, uma vez deitada, eu sinto toda aquela substância nociva se espalhando, crescendo, multiplicando, fermentando. Eu sou tóxica. Eu não mereço viver. Toda dor que sinto é um lembrete, um aviso, de que eu estou aqui apenas para o sofrimento, recebê-lo e causá-lo.

E é por isso que eu gostaria de sumir. Desaparecer. Fundir meu corpo às paredes. Cair no esquecimento, aos poucos, porque sei que, por mais nociva que eu seja, ainda assim há pessoas que gostam de mim. E eu não queria causar mais nenhum tipo de sofrimento. Não mais. Nunca mais.