segunda-feira, 24 de julho de 2017

Crise estrutural

Vivemos uma crise estrutural. Não, uma crise. Só crise. É tudo o que consigo ver quando olhos para os lados, para cima, para baixo, para o centro, para dentro. Traz o limão, que o sal da vida e a tequila dos beberrões já entrou!

O frio dos corações é contagiante. Somos todos gelados. Descolados, coloridos, cintilantes, unicórnios saltitantes. Queremos atenção, mas estamos pouco ou nada dispostos a cedê-la para outras pessoas. Só queremos ser atendidos; mas atender ninguém, credo, deusmelivre, "que gente mais carente!". Cutucamos, mas não aceitamos ser cutucados de volta. Apontamos duas mãos cheias para os outros; mas quando minimamente comentam nossos defeitos, choramos, brigamos, não podemos ter falhas!

Recentemente li um texto que me chocou: fazia uma releitura sobre o que é exposto no livro/filme Clube da Luta, fazendo uma observação interessante - de que o tema discutido versa, verdadeiramente, sobre a necessidade de haver um ritual de passagem de menino para homem. E fala assim, no masculino, como se o restante do mundo não precisasse da exata mesma coisa.


O texto defende que mulheres já possuem rituais de passagem - um bem explícito, que é a menstruação. Até faz sentido. Depois tem a festa de debutante, famosos "15 anos", no qual a moça dança com os homens presentes que se voluntariam para a tarefa. Bastante sugestivo, achei ofensivo e realista, nojento por sinal e, por favor, posta mais. 

Menstruei com 12 anos. Ou 13. Não lembro. Foi horrível. Eu lembro de chorar porque eu queria ser criança por mais tempo. Que bobagem... Afinal, fui criança por muito mais tempo, não foi um sangue na vagina uma vez por mês que mudou isso. E hoje, com 25 anos, sinto que cada vez mais faço questão de ser criança, mesmo que isso ofenda algumas pessoas, que esperam alguma maturidade de mim. É ingenuidade pensar que a menstruação me transformou em mulher e mais ingenuidade ainda achar que minha festa de 15 anos tenha significado alguma coisa a respeito de virar mulher - nada disso teve qualquer tipo de efeito nesse sentido.

Bom, eu sou madura. Eu acho. Não sei. Eu também era uma criança particularmente madura, então acho justo ser um adulto particularmente infantil - pra compensar as coisas.

O que esse texto deixou de considerar é que talvez essa necessidade de transformar meninos em homens - essa urgência em fazê-los sair da zona de conforto de "cuidado" para "cuidadores", é uma emergência generalizada. Não se trata de meninos/homens, e eu também estaria sendo simplória por dizer que se trata de meninas/mulheres; eu acho que a crise é muito maior: se trata de crianças/adultos.

Somos todos crianças. Deveríamos ser adultos.

Em algum momento, as pessoas deveriam crescer e enfrentar seus medos. Abrir-se e encarar os outros, como o termo sugere, olhando nos olhos. Vivemos morrendo de medo. Talvez o correto seja: sobrevivemos morrendo de medo, assustados com nossos cérebros, reprimindo nossos instintos e emoções, porque achamos que eles podem nos causar problemas. E podem mesmo. Mas nós já deveríamos ser "adultinhos" o suficiente pra aceitar e lidar com isso.

Vivemos uma crise estrutural.

Não, uma crise. Só crise. É tudo o que enxergo ultimamente.