terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Feliz 19 anos

Em meio à conversas corriqueiras eu tenho o - talvez detestável - hábito de observar quem fala, o que fala, como fala e porque fala. Se você não parar pra pensar a última frase pode ter sido a maior idiotice do mundo, mas se avaliar bem, vai perceber nitidamente que muitas pessoas não se dão o trabalho de observar esses pontos. É muito importante que uma conversação seja baseada em alguma coisa - uma ideia, um fato, uma especulação, um assunto pessoal. Mas não é tudo que se fala com todo mundo, certo? Certo, não discutimos assuntos nossos com pessoas desconhecidas e você ficaria impressionado(a) o quanto pode ser raro que pessoas que convivem muito tempo juntas, como uma família, desenvolvam assuntos que não sejam os de uma família qualquer: contas, familiares, roupas, trabalho, escola etc.


Em todo o caso, o primeiro fator que eu observo é: quem. Quem está falando? Quem é esta pessoa? Não me interessa saber se é minha ou sua mãe, médico, advogado, juiz, papeleiro, faxineiro, bicheiro. Se formado em que, não formado em nada, cursinho técnico ou faculdade. Se tem Fusca, Citröen, Ferrari, Chevette, e se tem um carro. Se mora em casa alugada, comprada, mansão, barraco. Não, nada disso. Eu me pergunto de onde veio essa pessoa, como ela chegou até aqui, como seus pais educaram-na, o que ela pensa da vida. Observo sua postura e tento chegar a alguma coisa, não uma conclusão, mas algum parecer, para assim entrar no próximo quesito: o que.

O segundo, o que fala, provavelmente seria o mais importante se não levássemos em consideração que cada ser humano é único, e portanto merece uma certa dose de atenção sobre o que realmente é. Eu analiso o que essa pessoa fala, qual a consistência dos fatos que ela narra, fatos, ou ideias, ou qualquer coisa. Observo de onde surgiram as informações que ela está expondo, qual sua importância no mundo concreto, se têm relevância para o resto todo. E isso nos leva ao terceiro fator: como.

Como se fala é uma coisa que, como as outras duas anteriores, é muito importante, embora muitas pessoas não se dêem conta disso. Em uma consulta médica, por exemplo, o doutor não pode consultar ninguém aos berros, e não se pode ir à lugares movimentados e barulhentos, como a feira, e conversar baixinho. Para tudo no mundo existe hora e lugar. Não existe coisa mais horrenda do que duas pessoas brigando no meio da rua - nossa mãe estava certa quando dizia para que não brigássemos com nossos irmãos, aquilo era realmente muito estúpido da nossa parte, e a fazia passar uma grande vergonha. Não é bem por vergonha que quando adulto devemos evitar discutir na frente de outras pessoas, mas por mera e pura educação, em busca de um mundo menos horroroso não podemos esperar que os outros sejam educados primeiro que a gente. Desembocamos, então, no quarto e último quesito: porque.

O porque, o motivo pelo qual se fala, é de uma relevância tal que às vezes até mesmo quem fala não se dá conta dela. Um palestrante que trata sobre o uso de drogas e prevenção à gravidez para o público de uma comunidade carente, de repente, está fazendo aquilo porque seu currículo de atividades manda, e por simples falta de noção da importância deste ato não se dá conta. Devemos nos preocupar em questionar, a nós mesmos, qual a utilidade daquilo que falamos. Aqui podemos recomeçar o ciclo e avaliar todo o conjunto ao mesmo tempo.

Com isso tudo, eu quero chegar no meu ponto: pessoas, que não se sabe quem são, falam sobre o que não sabem, sem saber como falar e qual a importância das coisas. Não é difícil, portanto, perceber como os assuntos ficam obsoletos, retrógrados e patéticos muitas vezes.

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